top of page

Vida julgada por uma foto vazada

Por: Lívia Lira

Ano de 2013 - Na época, Luana tinha 15 anos e acabou resolvendo terminar o seu relacionamento com João. O namoro, que havia começado na escola, se encerraria lá também, pois o pai da jovem havia decidido que a transferiria da instituição. Mas esse não era o principal motivo do término, ela conta que já não estava mais gostando de João e que ele estava ficando bastante possessivo e agressivo com ela.


Foi então que a mesma decidiu colocar um fim na relação, mas ele não concordou. Vingou-se da pior forma possível: João enviou fotos íntimas de Luana para familiares e amigos da garota. Além disso, começou a persegui-la e a hackear suas redes sociais, não a deixando em paz com ameaças constantes. "Foi o pior momento da minha vida” relata a garota.

 

No novo ambiente escolar, como toda jovem, queria conversar e interagir com outras pessoas. Mas ela não conseguia. Sentia vergonha pelo ocorrido e arrependimento por ter mantido uma relação que chegou a esse nível, simplesmente porque ela não queria mais continuar. Além de lidar com as fotos circulando, Luana também tinha que aguentar os apontamentos das pessoas, que vinham de parentes, desconhecidos e até mesmo da própria escrivã que ouvia a sua denúncia na delegacia.


Um dia, Luana recebeu uma ligação da mãe de uma colega do atual colégio perguntando se ela não tinha vergonha de ter suas fotos circulando nas redes sociais. Luana, depois de ouvir os insultos, disparou: “Você não sabe quem eu sou, você está me julgando, você não sabe a situação que aconteceu”.

 

 

O caso vivenciado por Luana e por tantas outras vítimas se configura como um dos principais crimes que acontecem na internet, o pornô de revanche, conhecido também como sexting ou exposição íntima. Segundo a Safernet, uma organização não governamental, sem fins lucrativos, que recebe denúncias e auxilia vítimas de crimes virtuais, cerca de 327 denúncias sobre exposição íntima foram registradas no ano de 2017. Desse número, 204 foram sofridas por mulheres, que, na maioria dos casos, sofrem com diversos sintomas após a divulgação das fotos, que vão desde depressão até o isolamento do convívio social. Em alguns casos, as vítimas chegam até a cometer suicídio.


Em 2015, quatro anos após o ocorrido, o caso voltou à tona. Luana  conta que uma amiga havia lhe passado a informação de que as suas imagens estavam circulando novamente, só que dessa vez, em um site pornográfico na internet. Assim que tomou conhecimento sobre o assunto, Luana foi à Polícia Federal, que possuía uma delegada e setor específico para receber a denúncia. Além disso, Luana também registrou o ocorrido através do Safernet.


Na Polícia Federal, Luana conta que o atendimento foi superior ao que ela havia recebido anos antes. “A delegada me informou sobre meus direitos e me auxiliou para que tudo desse certo no final”, conta. Com ajuda do Safernet, a jovem diz que o site foi excluído e desde então, suas fotos nunca mais apareceram.

 

Quando perguntada sobre como o ficou o caso, Luana conta que até hoje não sabe o que aconteceu com o ex-namorado. Diz que fez as denúncias, levou o máximo de provas possíveis que pudessem comprovar o crime, mas que até então, não sabe o que aconteceu exatamente com ele.


Ano de 2018 - Desde o ocorrido, Luana  mudou bastante seu modo de pensar e agir na internet. Por medo, decidiu se afastar por um tempo das redes sociais, pois tinha medo de voltar ao mundo on-line. Agora, está voltando aos poucos e sempre que pode, tenta auxiliar as vítimas que passaram pela mesma situação

que ela.

Ele era meu amigo

 

Com a esteticista Márcia, de 22 anos, também não foi diferente. Ela descobriu que Lucas,  que era seu grande e melhor amigo, havia criado um grupo no Whatsapp para compartilhar suas fotos íntimas. Márcia ficou desolada e inconformada com a situação, não conseguia acreditar que aquilo estava acontecendo  com ela.


O caso veio à tona quando um amigo do seu ex-namorado o avisou e só então passou a informação para ela. Quando Márcia descobriu, resolveu tirar satisfações com o Lucas. Ele negou por diversas vezes, chamou-a de louca e disse que não era verdade.

Márcia conta que foi até a delegacia registrar um boletim de ocorrência sobre o caso, mas que não deu continuidade por medo do que pudesse acontecer depois. “Como eu não tenho todas as provas necessárias para dar continuidade ao caso e ficaria passível de sofrer muito constrangimento por partes de outras pessoas eu resolvi não dar continuidade”, diz.

Márcia conta que após o boletim, ele não falou mais com ela e nem comentou mais sobre o assunto. 

                                                          

Sonora 01 - Luana
00:00 / 00:00
Sonora 02 - Luana
00:00 / 00:00
Sonora 03 - Luana
00:00 / 00:00
Sonora 01 - Márcia
00:00 / 00:00

Os nomes das vítimas aqui utilizados são fictícios para resguardar as suas identidades.

bottom of page